15.6.06

Gênesis 37 - 39 - Bênção

A história de José é uma de minhas preferidas. Ela tem ingredientes humanos e divinos que fazem com que essa preferência não seja exclusividade minha: muitos cristãos se identificam com José. Talvez, principalmente, porque José, como os cristãos de forma geral, têm um desejo comum: o desejo de fazer a coisa certa. E uma dificuldade comum também: nem sempre (ou quase nunca?) fazer a coisa certa significa se sair bem.

Não é que José não tivesse defeitos. O Antigo Testamento não poupa nenhum detalhe sórdido de seus personagens. Mas no capítulo 38 e 39 encontramos um paralelo surpreendente. Dois irmãos - Judá e José - criados por um mesmo pai, com a mesma educação, princípios e religião, comportam-se de forma completamente aversa. Enquanto Judá é descrito como um homem que cedia facilmente aos seus impulsos sexuais, e por causa disso trouxe grande complicação pra sua vida, José é focado num episódio em que resiste bravamente ao forte apelo físico da mulher de Potifar. "Tá", alguém dirá, "mas ele também se complicou bastante por causa disso. Deixou de ser o mais importante de uma casa rica, para ir morar num calabouço".

De fato. Quando José contava ao pai sobre o mau comportamente dos irmãos, ele não queria prejudicá-los, apenas fazer a coisa certa. Quando falava aos irmãos de seus estranhos sonhos, não queria humilhá-los, apenas achava que contar era a fazer a coisa certa. Quando correspondia ao amor de seu pai ou a confiança de Potifar, não o fazia com intenções escusas, fazia isso apenas porque isso era fazer a coisa certa. No entanto José foi machucado, vendido, ofendido e humilhado. Se tanto bons como maus atos implicam em finais trágicos, por que, então fazer o bem?

A curiosa resposta vem de uma análise mais detida da história. Mesmo odiado pelos irmãos, José foi abençoado porque sua vida foi poupada. Mesmo sendo vendido como escravo, José foi abençoado por ir parar numa casa boa, onde poderia crescer e através de seus talentos conquistar uma vida digna. Mesmo injustiçado por aquela mulher, e jogado na cárcere, José foi abençoado e conquistou o respeito e confiançado carcereiro, o que lhe permitiu uma qualidade de vida superior aos demais presos. E mais tarde, pelo mesmo motivo, sair dali e ser apresentado ao rei.

Há quem explique as coisas assim: José tinha de ser vendido para poder vir a conhecer o rei e se tornar o governador do Egito. Eu não sei se isso TINHA que acontecer, mas sei que, qualquer fosse o caminho que José trilhasse, Deus o conduziria ao melhor lugar que ele poderia estar. É nesse sentido que aqueles que preferem a justiça, o bem, o certo, estão predestinados para a salvação. Mesmo os seus problemas, suas complicações, suas aparentes derrotas, tornam-se em canais de bênção que os fazem vitoriosos no final. O livre arbítro que Deus pôs em nossas mãos nos permite escolher qualquer destino, mas somente quando nos dispomos a fazer a Sua vontade, é que qualquer destino vira uma bênção. Nada TEM que acontecer, mas se acontece, contribui de alguma forma para o bem daqueles que amam a Deus. Por dois motivos: porque já não agimos conforme nossa inclinação, a qual nos leva sempre para baixo, e porque, independente de qualquer coisa que façamos, Deus age junto conosco, endireitando nossas veredas.

Acho que José foi mais feliz que alguns cristãos porque, mesmo em meio a tantos perigos e ameaças, ele consegiu ver bênçãos palpáveis acontecendo ao seu redor e lhe beneficiando. Mas aqui precisamos aclarar também o nosso conceito de bênção. Bênção é uma bênção, não importa o que eu ache sobre isso, ou se ela beneficia imediata e diretamente a mim.

Por exemplo: não somos abençoados PARA fazer o bem, mas POR fazer o bem. Fazer o bem é uma bênção em si: o próprio desejo de fazê-lo não é mérito nosso, mas fruto de um bênção divina. Aí não adianta ficar esperando pra ver o que acontece depois: "Fiz algo bom e agora vamos ver com o quê Deus vai me premiar". O Prêmio já foi dado: Deus lhe concedeu fazer algo bom, quer seja para você quer não. "É o Espírito quem efetua em nós tanto o querer como o realizar". Dessa forma, até desejar ser abençoado já é uma bênção. Pensar em Deus já é uma bênção. Amar o bem e reconhecê-lo já é uma bênção. Nada disso seria possível em nós, a não ser como dádiva celeste.

É certo que Deus está ansioso para nos fazer prosperar como aconteceu com José. Mas a bênção não é algo que vem no final, quando as luzes se acendem, os fogos estouram, os louros coroam, a música exalta, a glória é patente. A bênção está acontecendo agora, enquanto você, no meio da escuridão, sente que alguém lhe fala. A bênção está agindo no fundo do poço, nas algemas da escravidão, na frieza do cárcere. Que lugar a graça de Deus não pode alcançar? No entanto cismamos em não ver a bênção porque nos assusta o tamanho da "provação".

Sabe, a vitória e a prosperidade podem demorar, podem não se fazer palpáveis por muito tempo ainda. Isso não quer dizer que você esteja esquecido. Deus pode lhe abençoar agora mesmo, se você decidir estar ao lado dEle. E mesmo que nada pareça mudar, nem nos fatos nem nos sentimentos, tenha fé que nem tudo que existe se revela no tempo e forma que escolheríamos. Ser abençoado agora é mais importante do que vai acontecer no final. Permita isso e deixe o resto com Deus. Creia e confie. Uma certeza acalentada pode fazer muito mais diferença que uma resposta palpável. Aconteça o que acontecer - e o que não acontecer - a bênção faz de você neste instante um amado filho de Deus.

Que Deus te abençoe.

6.1.06

Gênesis 20 - 22 - Vamos falar de fé

Já pensou se a salvação dependesse do ser humano? Algus cristãos vivemcomo se isso fosse possível. Fazem todos os esforços para "não errar", para "não pecar", e por vezes esquecem que a salvação acontece porque Deus é fiel, e não nós. Nossa fidelidade é apenas uma prova de amor a Ele, não umrequisito apra a salvação. Se assim fosse, alcançaria alguém a salvação?

Vejamos o exemplo de Abraão. Sua esposa era muito, muito bonita. Bonita ao ponto de ser perigosa (e aqui eu volto a fazer as pazes com o espelho - ser feinha as vezes é vantagem!). Sara era tão bela que mesmo já tendo ultrapassado a barreira dos NOVENTA anos de idade ainda atraía os olhares cobiçosos dos homens! Não registro de mulher com beleza tão poderosa e resistente na história. E novamente, diante do "perigo" de sua beleza, Abraão fraqueja. Repare que ele não temeu investir com seu pequeno exército contra uma confederação de cinco reis (Gn 14: 1 - 24) para salvar Ló, mas a beleza de Sara lhe parecia uma ameça inexorável.

Esse episódio é especialmente intrigante porque Abraão já tinha caído no mesmo erro antes (Gn 12: 18 e 19) e deveria estar mais maduro espiritualmente. Especialmente depois da aliança feita entre eles (cap. 17). Mesmo com tantas promessas divinas e provas de Sua proteção, o casal duvidou mais uma vez de Deus.

Intriga também a reação de Deus para com Abimeleque, já que este era indubitavelmente inocente. Mas lembremo-nos de que o que estava em jogo era a linhagem de Jesus Cristo, portanto, o planod e salvação da humanidade. Deus tinha que ser, no mínimo, enfático com Abimeleque. Mas Ele mesmo disse que nada lhe faria caso ele devolvesse Sara a Abraão (v. 6) . E o fato de ter tornado estéreis as mulheres da sua casa tambémtinha como objetivo impedir que Sara, entre elas, tivesse um filho de algum outro homem que não Abraão. Sim, porque Sara era bela, mas definitivamente não era "santa". O fato de aceitar que Abraão a entregasse assim a outros homens e não se opor a coabitar com eles parece demonstrar isso. Nessas horas convém lembrar que, em toda a história humana, "onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20).

Abraão continua sendo, no entanto, o personagem mais intrigante dessa hsitória. Deus não lhe dá nem um castiguinho pela conduta má? Não lhe dá um puxão-de-orelha por causa das desculpas esfarrapadas que ele profere, tentando culpar a suposta falta de piedade de Abimeleque ou mesmo a Deus, por seu "delírio" (v. 3 - 7 e 13)? A palavra usada por Abraão para expressar seu erro, em hebraico dá a conotação de intoxicação ou insanidade mental... Abraão literalmente se fez de doido para passar melhor. E Deus ainda pede que ele rogue por Abimeleque para que este viva?

Sobre a prece, Abimeleque recorreu a Abraão porque, como cananeu, não tinha intimidade com o Deus Altíssimo. Apesar de tudo, Abraão ainda era porta-voz de Javé. Mas quanto a impressão que Abraão ficou, que supostamente estava tudo resolvido e ele tinha mesmo muita sorte por ser o "queridinho" de Deus, os capítulos seguintes a negam veementemente. Chegou a hora de Abraão crescer e virar o pai da fé. Durante muitos anos Deus provara seu amor para com Abraão, agora chegara a vez de Abraão provar que sua crença em Deus era verdadeira, mesmo se as coisas não fossem bem...

Assim, o capítulo 21 começa pedindo de Abraão uma difícil decisão: separar-se em definitivo do seu amado filho Ismael. Por causa das feridas emocionais que mencionamos ontem, Sara e Agar brigaram mais uma vez, e agora Agar foi expulsa da convivência daquela família. Ver o filho Ismael partindo para o deserto sem poder nada fazer, tendo que confiar somente na promessa de que Deus lhe protegeria (v. 13), foia primeira grande prova para Abraão, que ficou pesaroso (v. 11). Deus começara a provar Abraão justamente no que lhe era mais importante: sua paternidade, e usando para isso a quem ele mais amava: seus filhos.

Não bastasse Deus ter deixado Ismael ir, agora vem o pedido inacreditável:

Gênesis 22: 2 - "Prosseguiu Deus: Toma agora teu filho; o teu único filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que te hei de mostrar."

Seria mais fácil se Deus tivesse castigado Abraão no episódio de Abimeleque com um solene raio em sua cabeça. Mas o intento de Deus não era ferir e castigar a Abraão, e sim fazê-lo crescer espiritualmente. É assim conosco também. Infelizmente esse crescimento tem que se dar, por vezes, das formas mais dolorosas, já que recusamos reiteradamente as vias pacíficas. Assim, mesmo sentindo-se triste por ter perdido Ismael e amedrontado de perder Isaque, Abraão provou seu valor: teve fé. Não sabia como Deus resolveria aquilo. Mas não reclamou, não questinou, não se revoltou, apenas cumpriu passo a passo o que Deus lhe ordenara. Há aui bastante semelhança entre o sacrifício de Isaque e o de Cristo. Abraão virou tipo de Deus Pai, dispondoi-se a entregar seu único filho. E Isaque virou tipo de Cristo, numa peregrinação de três dias (v. 4, Daniel 9:27) em direção ao sacrifício.

Abraão foi tão firme que já vi algém sugerir que esse tipo de sacrifício poderia ser uma coisa comum à época para abrandar a fúrias dos deuses, e ele estava disposto a fazê-lo. Mas parece-me claro que Abraão esperava que Deus cumrpisse a aliança através de Isaque, e resolvesse aquela situação de alguma forma milagrosa (v. 5 "voltaremos") mesmo que através da ressureição (Hebreus 11: 17 - 19). Deus interviu antes que que ele esperava, e renovou a aliança de froma forte e, com certeza, inesquecível para todos os presentes.

Eis o Abraão refinado no fogo da provação que admiramos e que se tornou exemplo para muitos até hoje. Por que nós não haveríamos também de experimentar momentos de prova? No que Abraão foi firme que nós também não poderemos ser?


OBSERVAÇÃO CONSOLADORA

Gênesis 21: 1 - "O Senhor visitou a Sara, como tinha dito, e lhe fez como havia prometido."

Sarai - vem da raiz da palavra hebraica que significa "brigar" (ela já era bela, não podia ser perfeita...)
Sara - significa princesa (uma referência a sua parte na aliança como mãe de uma numerosa descendência)

Abrão - significa pai exaltado (uma referência provável a aristocracia de sua família)
Abraão - significa pai de muitas nações.

Deus mudou o nome deles cerca de um ano antes de Sara conceber (18:10). Durante esse tempo eles carregaram a promessa de Deus no nome. Como deveria se sentir Abraão quando se apresentava a alguém durante esse tempo? Quer dizer:

- Olá, meu nome é Pai de muitas nações
- Que legal, e cadê teus filhos?
- Eles não chegaram ainda, mas Deus disse que daqui a um ano eu vou ter um.
- Ah, tá... mas você não tem cem anos?
- Pois é.

Sim, ele tinha fé.

E nós, advenstistas, podemos carregar a promessa do advento de Cristo em nosso nome sem medo também, que Ele virá em breve.

5.1.06

Gênesis 16 - 19 - Feridas mal curadas

O que mais me chamou atenção na leitura bíblica de hoje foi a história de Sarai e Agar. Sarai era uma mulher bela, amada, rica, mas lhe faltava algo especial: um filho. Deus porém fizera uma promessa ao seu marido, mais de uma vez, reiterando que lhes daria um herdeiro, gerado deles, que eria o pai de uma numerosa descendência.

Mas Sarai, ao invés de se apegar a essa promessa e esperar nela, deixa que a amargura encha seu peito.

Gênesis 16: 2 - "Eis que o Senhor tem me impedido de dar à luz filhos."

Tudo que o Senhor mais queria é que ela tivesse seu filho. Mas Sarai cansou de esperar que as coisas fossem feitas segundo a vontade de Deus, que parecia tardia demais. Resolveu fazer as coisas ao seu jeito. O resultado? Ismael e Isaque, árabes e judeus, irmãos e vizinhos em eterno conflito até os dias de hoje.

Enquanto relia essa história e pensava em suas consequências refleti no quanto custa uma ferida mal curada. Aquela ferida dolorida que ao invés de entregarmos logo aos cuidados de Deus, deixamos supurar e pungir indefinidamente só porque não confiamos na maneira de Deus operar. "Ai, Deus, vai doer. Se Tu mexeres nessa ferida eu não vou aguentar. Vai ter que cortar, vai arder, vai sangrar... olha, deixa a ferida aqui que eu acabo me acostumando com ela e qualquer dia nem noto mais". Então fica Sarai com aquela mágoa no peito: "meu filho, meu filho...", não deixa Deus operar a Seu tempo e maneira, "meu filho, meu filho", e um dia a dor é tanta que ela abre mais a ferida e fere outros também. Agar e Ismael acabaram saindo muito machucados dessa história de dores crescentes e mútuas (Gênesis 21: 9 - 10).

Definitivamente nós não sabemos cuidar de nossas feridas emocionais e espirituais. Psicólogos e pastores podem ajudar, terapias e cultos podem dar algum alívio, mas temos que procurar a cura. E a cura está em deixar Deus agir sobre a ferida. Pode ser que doa e você chore bastante durante o tratamento, mas ao final você estará limpo e são.

Feridas guardadas só aumentam, e causam outras feridas.

OBSERVAÇÃO CONSOLADORA:

Gênesis 17: 17 - 18: "o que se prostrou Abraão com o rosto em terra, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? Dará à luz Sara, que tem noventa anos? Depois disse Abraão a Deus: Oxalá que viva Ismael diante de ti!"

Gênesis 18: 12 - " Sara então riu-se consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já velho?"

Gênesis 18: 24 - 32: "...não se ire o Senhor se lhe falo somente mais esta vez..."

Ah, temos um Deus paciente e misericordioso.


NOTAS SOBRE O CAPÍTULO 19

Impossível não traçar alguns comentários sobre um dos eventos mais vistosos do Antigo Testamento.

Gênesis 19: 8 - "eis aqui, tenho duas filhas que ainda não conheceram varão; eu vo-las trarei para fora, e lhes fareis como bem vos parecer: somente nada façais a estes homens, porquanto entraram debaixo da sombra do meu telhado." - A primeira reação ao ler este verso é: "Nossa, como Ló, o sobrinho de Abrãao, teve coragemd e oferecer as próprias filhas para serem abusads com tanta naturalidade?". Acontece que Ló não era então nenhumexeplo de virtude. Os anjos o encontraram às portas da cidade, o que quer dizer que ele não morava mais fora dela, mas ocupava uma posição social importante em seu seio, e estava contaminado com sua imoralidade. Também sua mulher e filhas não foram salvas por sua própria jusiça, mas pela misericórdia de Deus e a intercessão de Abraão. Prova de que a oração intercessória tem mesmo grande valia...

Gênesis 19:9 - "Eles, porém, disseram: Sai daí. Disseram mais: Esse indivíduo, como estrangeiro veio aqui habitar, e quer se arvorar em juiz! Agora te faremos mais mal a ti do que a eles. E arremessaram-se sobre o homem, isto é, sobre Ló, e aproximavam-se para arrombar a porta." - Embora a homosexualidade seja declaradamente abominação diante de Deus, fica claro que nesse verso o pecado dos homens não é a sexualidade mas a maldade pura e simples, o querer "fazer mal" através da violência. Para mim fica claro que os homens de sodoma não precisavam de uma motivação para tal violência, o sexo era apenas um instrumento para isso, não a causa.

Gênesis 19:11 - " e feriram de cegueira os que estavam do lado de fora, tanto pequenos como grandes, de maneira que cansaram de procurar a porta." - a palavra traduzida por cegueira aqui tem a ver com um tipo de "ofuscamento", como o que aconteceu com Saulo, por exemplo. Notável que, ainda assim, atingidos num orgão tão sensível, eles continuaram a tentar achar a porta para cumprir seus maus intentos.

Gênesis19: 15 e 16 - "E ao amanhecer os anjos apertavam com Ló, dizendo: levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças no castigo da cidade. Ele, porém, se demorava; pelo que os homens pegaram-lhe pela mão a ele, à sua mulher, e às suas filhas, sendo-lhe misericordioso o Senhor. Assim o tiraram e o puseram fora da cidade." - A princípio Ló recebe os anjos como verdadeiros mensageiros de Deus, prostra-se com rosto em terra reconhecendo sua autoridade. Mas depois, quando sai para chamar seus futuros genros e estes escarnecem dele, Ló começa a mudar de comportamento. Talvez as palavras daqueles jovens tivessem feito ele duvidar da coerência de toda aquela situação e ele pôs-se a questionar as consequências de abandonar seus bens (que deveriam ser muitos), sua posição social, seus negócios e fugir dali numa noite tão bonita como aquela, em que nada prenunciava sinal algum de destruição. Ló ficou tão desanimado com a idéia de sair dali, e tão descrente da advertência divina que foi dormir. Ora, se vocêsoubesse que uma erupção vulcânica desabaria sobre sua cidade a qualquer momento, iria dormir tranquilamente? Apenas se duvidasse dessa informação. Os anjos tiveram que acordá-lo e arrastá-lo contra sua vontade dali... Deus ainda usa esse método hoje contra a teimosia egoísta de seus filhos.

Gênesis 19: 18 - "Respondeu-lhe Ló: Ah, assim não, meu Senhor!" - Ah, sim, Deus é paciente e misericordioso. Um monte esmo não bastava. Enquanto os anjos instavam para lhe salvar a vida, Ló estava pensando que numa cidade seria mais fácil recompor todo o seu patrimônio...ledo engano já que mais na frente, no verso 30, ele sai de Zoar temeroso de lai permanecer. Deus tenta fazer a parte dele de todas as maneiras, mas o homem de todas as maneiras não o deixa.

Gênesis 19: 37 e 38 - " A primogênita deu a luz a um filho, e chamou-lhe Moabe; este é o pai dos moabitas de hoje. A menor também deu à luz um filho, e chamou-lhe Ben-Ami; este é o pai dos amonitas de hoje." - mesmo a linhagem mais próxima a Abrãao estava agora corrompida. Deus não rejeitou amonitas e moabitas por causa de sua origem incestuosa, ms porque destrataram a Israel e escolheram a maldade por guia. A forma como uma criança é concebia até influencia mas não determina seu destino. Salomão foi fruto de um terrível adultério seguido de assassinato. Mas ao contrário de Moabe (do hebraico, "de nosso pai") e Ben-Ami (do hebraico, "filho do meuparente"), voltou-se para Deus e Sua justiça. Os moabitas introduziram em ISrael o culto ao deus-sol, Baal-Peor, e o amonitas , a adoração a Moloque. O irônico é que essas divindades eram cultuadas com o sacrifício de crianças. O desejo perverso das filhas de Ló terem crianças através do incesto, acabou causando a morte de muitas outras...

4.1.06

Gênesis 12 - 15 - Abrão e sua jornada

Quando partiu da casa do seu pai em Ur, Abrão levou consigo sua esposa, seu sobrinhos, os seus bens, pois então ele era um estabilizado homem de posses, alguns servos e o que de mais precioso tinha: uma promessa.

Gênesis 12: 2 - 3 - "Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu, sê uma bênção. Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra."

O que pensou a família de Abrão ao vê-lo deixar tudo para trás em troca de uma coisa tão etérea como uma promessa? Quantos conselhos ouviu para não deixar sua vida certa e segura em troca de arriscar-se sem rumo certo pela terra? Eu não sei, mas sei que muitos hoje tomam a decisão que Abrão tomou quando decidem começar uma jornada cristã, onde a promessa divina vale mais que qualquer bem, pessoa, dinheiro, segurança ou futuro que tenha de deixar para trás.

Vale frisar que aceitar a jornada em si não é garantia de chegar ao destino. A jornada terrena de Abrão teve aproximadamente 2.400Km entre Ur e Canaã, mas sua jornada espiritual é o que mais atrai nesse ilutre personagem bíblico, "porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hebreus 11: 8 - 10)

O primeiro lugar odne Abrão armou sua tenda foi num lugar entre as cidades de Betel e Ai. Foi quando Abrão entrou na sua fase de "estar entre". Ele não estava mais na sua terra, e os cananeus não deixavam que ele habitasse dentro dos limites de Canaã. Edificou um altar ao Senhor ao lado de um carvalho que era provavelmente usado para cultos de fertilidade pagãos, e o abandonou em seguida, mesmo que Deus tivesse lhe dito que lhe daria aquela terra. Armou sua tenda entre uma cidade que se chamava "casa de Deus" e outra, ao sul, chamada "ruína". Você também já teve essa sensação de estar entre? Entre o princípio de um sonho e sua realização? Entre o que você já não é e o que gostaria de ser? Entre a casa de Deus e a ruína?

Durante esse tempo aconteceram coisas curiosas com Abrão que espelhavam essa dualidade. Quando esteve no Egito, ele acovardou-se e duvidou seriamente de Deus ao deixar sua mulher a mercê do Faraó pormedo de morrer. Não teve fé! Quando separou-se de Ló deixou que esse escolhesse primeiro a porção de terra em que desejava se estabelecer, abrindo mão de seus próprios direitos como cabeça da família por acreditar na promessa de que Deus. Teve fé! Esses altos e baixos faziam parte da jornada, mas o Senhor não desejava que fosse assim para sempre. Por isso chamou Abraão e disse:

Gênesis 13: 14, 15 e 17 - "E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o norte, para o sul, para o oriente e para o oriente;
porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. Levanta-te, percorre esta terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a darei a ti."

O que significou essa atitude de Deus? Acredito que ele estava dizendo: "Abrão, você tem "estado entre" por tenmpo demais. Levante, veja que o que eu quero te dar é bem maior do que você imagina. Quando se "está entre" não se pode ter noção do que o espera, apenas do que ficou para trás." De acordo com umcostume antigo, a transferência da propriedade era finalizada com a vista do novo proprietário ao lugar. Deus ordena a Abrão que reivindique simbolicamente a Terra Prometida. "Você quer parar de "estar entre" e chegar ao lugar que sonhei para você? Reivindique isso! Tome posse do que eu quero lhe dar!" E o que acontece em seguida?

Gênesis 13: 18 - "Então mudou Abrão as suas tendas, e foi habitar junto dos carvalhos de Manre, em Hebrom; e ali edificou um altar ao Senhor."

Abrão sai do "estar entre" e habita em Canaã. O altar outrora erguido ao lado dos altares pagão não estava mais abandonado: voltaria a operar a santificação.Isso não significava que ele não pecaria mais, pelo contrário, continuaria tendo que batalhar conra suas tendêncisa pecaminosas, mas agora ele tinha se posicionado claramente ao lado de Deus diante de todos os povos e diante da sua própria pecaminosidade, e assumido a responsabilidade de ser um detentor das promessas divinas. Abrão saíra de uma parentela idólatra entre a qual vivera muito tempo. Seu caráter estava longe de ser perfeito. A luta estava só para começar, mas ele mostrou que estava disposto a travá-la. Foi um passo decisivo em sua jornada.

O que nos falta para tomarmos posse das promessas que Deus tem para nós? Será que precisamos apenas "levantar as tendas" e habitar no lugar que ele nos prometeu? Esse lugar de paz, onde o Senhor é adorado num altar está bem próximo. Mas essa talvez seja a parte mais difícil da jornada: levar o nosso coração até onde Deus deseja que ele esteja.

CITAÇÃO DO DIA

"Embora pensasse viver no céu, ele já havia quase afundado no inferno."

(Calvino, referindo-se a Gênesis 13:10, quando Ló abandonou seu tio ignorando os perigos de Sodoma e as promessas de Deus)

3.1.06

Gênesis 8 - 11 - Noé e sua descendência

Chega então o capítulo da genealogia de Noé, e diante das insistentes e detalhadas genealogias do Pentateuco tem sempre alguém que pergunta: pra quê isso?

Além do objetivo primeiro, que é simplesmente registrar a origem dos patriarcas, podemos com alguma boa vontade observar detalhes interessantes nessas listas de nomes engraçados.

Gênesis 10: 8 e 9 - "Cuche também gerou a Ninrode, o qual foi o primeiro a ser poderoso na terra. Ele era poderoso caçador diante do Senhor; pelo que se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor." - Ninrode me chamou atenção pela primeira vez nas primeiras páginas de um livro de Millôr Fernandes chamado "Todo homem é minha caça". Millôr escreve lado lado o verso 8 de Gênesis e uma citação de Pope: "O orgulhoso Ninrode, robusto caçador. E sua caça era o homem". Isso impressionou tanto minha mente que eu quis saber mais sobre Ninrode. Seu nome, do hebraico marad, significa "revolta", "nós nos rebelaremos", o que sugere algo sobre sua personalidade. Ele edificou Babel, que veio a ser a capital babilônica inimiga de Judá e virou tipo de rebelião contra Deus desde o episódio da torre (cap. 11) até o Apocalipse. Outra cidade foi a Assíria, também forte inimiga do povo de Deus e famosa por ter um povo perverso e cruel. Comentário da Bíblia da Mulher (SBB): "Ninrode é o primeiro construtor de um reino, como Caim foi o primeiro a edificar uma cidade. Evidentemente, por sua coragem e feitos audaciosos, distiguiu-se como "o poderoso" (do hebraico, gibor, literalmente "herói" ou "tirano"), apesar de parecer mais preocupado com seus própios interesses do qu eem servir ao Senhor. Tudo isso ele fez "diante" ou sob o olhar de Javé. Mais uma vez, uma linhagem ímpia, cuja genealogia iria continuar, começou a surgir (Gênesis 11: 1 - 9)."

Gênesis 10: 15 - 16 - "Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e Hete,
e ao jebuseu, o amorreu, o girgaseu" - No capítulo anterior, verso 26, Noé profere uma bênção sobre Sem após amaldiçoar Cam, porque este teve uma conduta desrespeitosa para com seu pai. Meu pastor já pregou que o episódio em que Cam vê o pai nu emprega termos hebraicos que sugerem que Cam sentiu algum prazer nisso, que pode ser inclusive de ordem sexual. De qualquer forma, ainda com a cabeça doendo da ressaca, Noé o amaldiçoou e abenççoou seus dois irmãos que agiram de forma honrosa na ocasião. Pois bem, Abraão foi descendente direto de Sem e de Canaã, filho de Cam, descenderam os jebuseus e outros povos cananeus conquistados mais tarde por Israel. A maldição de Noé se cumpriu com a conquista da Terra Prometida.

Gênesis 10: 25 - "A Eber nasceram dois filhos: o nome de um foi Pelegue, porque nos seus dias foi dividida a terra; e o nome de seu irmão foi Joctã." - Eis o nascimento da propriedade privada.

Gênesis 11: 10 - "Estas são as gerações de Sem. Tinha ele cem anos, quando gerou a Arfaxade, dois anos depois do dilúvio." - Comentário da Bíblia da Mulher (SBB): "A genealogia de Sem é repetida depois da história de Babel para enfatizar a preservação de uma linhagem divina em meio à maldade. A genealogia é apresentada em múltiplos de sete, com o sétimo lugar ocupado por um homem de particular importância. Desde Adão até Enoque são sete gerações, de Enoque a Héber, ancestral dos hebreus, são sete; e de Héber a Abraão, são sete gerações. Os filhos de Sem foram escolhidos para ser a semente divina que Deus soberanamente iria proteger. Dos descendentes de Sem vieram a três religiões monoteístas: Islamismo, Judaísmo e Cristianismo."

Gênesis 11: 24 e 25 - "Naor viveu vinte e nove anos, e gerou a Tera. Viveu Naor, depois que gerou a Tera, cento e dezenove anos; e gerou filhos e filhas." - acho bastante significativa a forma como se resume a vida de um homem aqui. Ele nasce, então gera um filho, e aí pode morrer. O nascimento de um filho na vida do hebreu era algo importantíssimo, o curso de sua vida era especialmente marcado ali. De todos os descendentes de Sem, diz-se apenas quando teve um filho e quando morreu. Era como se enxergava o cumprimento da vida e da morte.

Isso tudo faz pensar que nenhum nome está na Bíblia por mero acaso. Cada linha e entrelinha tem muito para nos contar.

2.1.06

Gênesis de 4 a 7 - A família humana e a família de Deus

Os capítulos 4 a 7 do Gênesis mostram a degradação da família humana depois do pecado. É assombroso notar a maneira como, distantes do ideal de seu Criador, a humanidade só consegui realizar obras estranhas e funestas: homicídios, adultério, poligamia, em uma nível de degradação tal que Deus se viu obrigado a usar de um expediente ainda mais estranho: fez chover sobre a Terra e destruiu a sua própria obra de criação.

As famílias estão bastante presentes ao longo de cada um desses primeiros capítulos do Livro de Gênesis e, providencialmente, outras leituras que tenho feito também andam falando sobre família.

Por exemplo, o meu guia de estudo da Bíblia traz para os próximos três meses o tema "Las familias en la familia de Dios". Na introdução, os autores declaram: "Las familias forman parte del plan de Dios, como centros en los que los individuos experimentan asociaciones íntimas con otros y se preparan para la mayor intimidad de todas: una relación estrecha con Dios. En las familias tanto los niños como los adultos pueden tener una cálida experiencia que refleje a su Creador y que los anime en una vida de discipulado amante."


A família é uma instituição muito cara para Deus. Foi o instrumento escolhido por Ele para povoar toda a Terra, foi o instrumento escolhido para repovoá-la (conforme podemos ver no capítulo 7, versos 6-7: "E era Noé da idade de seiscentos anos, quando o dilúvio das águas veio sobre a terra. Noé entrou na arca, e com ele seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos, por causa das águas do dilúvio.)
e "família" também é a expressão que Deus usa para chamar o seu povo.

O ambiente familiar é o lugar onde se maturam, estreitam e desenvolvem os modos mais íntimos de relacões humanas. Deus tem prazer no relacionamento e Ele deseja que seus filhos desfrutem do mesmo prazer. Não por acaso a família é uma instituição tão vilipendiada desde que começou o Conflito no Éden. Satanás sabe que uma família desestruturada ou mal estruturada produz pessoas emocionalmente doentes e isso afetará toda a sociedade e a igreja. É assustador pensar, por exemplo, que o primeiro homicídio da história ocorreu no seio de uma família:

"E disse Caim a seu irmão Abel: Vamos ao campo. Estando eles no campo, Caim se levantou contra o seu irmão Abel, e o matou." - Gênesis 4:8

Segundo Ron y Karen Flowers, autores do guia de estudo semanal da Bíblia que utilizo: "[...] a causa del falso amor y de la indiferencia, las personas pueden dejar sus hogares paternos con problemas emocionales y espirituales, que a menudo son difíciles de borrar. Así como nuestros hogares tienen un gran potencial para realizar el mayor bien, también pueden hacer el mayor daño. No es extraño que la Biblia se refiera tanto a la vida familiar. Mucho depende de ésta."

"Deus quer uma família, e criou você para ser parte dela. Esse é o segundo propósito de Deus para a sua vida, o qual planejou antes que você nascesse. Toda a Bíblia é a história de Deus formando uma família que irá amá-lo, honrá-lo e reinar com Ele para sempre. [...] Deus é amor por isso dá imenso valor aos relacionamentos. Sua própria natureza é definida em relação aos relacionamentos; Ele identifica a si mesmo em termos familiares: Pai, Filho e Espírito Santo. A Trindade é um relacionamento de Deus consigo mesmo. É o padrão perfeito para uma relação harmoniosa[...]" (Rick Warren - Uma vida com propósitos, pág. 102)

E aí entra o que, pra mim, é o verso mais bonito de todos os quatro capítulos: Enoque entendeu a beleza da vida em relacionamento com o Criador e foi tão fundo nisso que experimentou o que muitos de nós almejamos mas nem todos desfrutaremos: não passou pela morte. O relacinamento de Enoque com Deus era tão gratificante para ambos, tão gratificante para Deus, que Ele já não podia viver separado de seu filho Enoque.

Gênesis 5: 21 a 23

"E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas. Foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. Andou Enoque com Deus; e já não era, porque Deus para si o tomou."

Gênesis 4 - 7 - Famílias

Interessante perceber esse elo comum às muitas histórias que aparecem nesses capítulos.
Falei ontem que a família foi terrivelmente atingida pelo pecado. Quem pode avaliar a dor de uma mãe que perde seu filho? Quem pode imaginar a dor de Eva ao ver Abel, seu amado filho, sendo a primeira vítima humana do pecado que por ela entrou no mundo?
E Caim? Passada a ira, como ele se sentiu ao ver as consequências da violência contra o seu irmão, em proporções até então não vistas?
Medo.
Mais uma das dolorosas consequências do mal.
O medo da morte tomou Caim. Que segurança haveria agora para si mesmo e para sua família?
Gênesis 4: 14 - 15 - " Eis que hoje me lanças da face da terra; também da tua presença ficarei escondido; serei fugitivo e vagabundo na terra; e qualquer que me encontrar matar-me-á. O Senhor, porém, lhe disse: Portanto quem matar a Caim, sete vezes sobre ele cairá a vingança. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o encontrasse."Mas formada a família de Caim, um de seus descendentes, Lameque, tomou da mesma fórmula divina para instituir o terror e a injustiça:
Gênesis 4: 23 - 24 - "Disse Lameque a suas mulheres: Ada e Zila, ouvi a minha voz; escutai, mulheres de Lameque, as minhas palavras; pois matei um homem por me ferir, e um mancebo por me pisar. Se Caim há de ser vingado sete vezes, com certeza Lameque o será setenta e sete vezes."Deus criou UMA companheira para o homem. Lameque foi o primeiro bígamo. Deus encontrou um meio de proteger a família de Caim, Lameque tornou-a uma ameaça para as outras famílias. Um de seus filhos virou especialista em armas.
Medo.
É o que se encontra distante de Deus.

Felizmente o Bem redime, e temos três exemplos seguidos de que a família, mais especificamente os filhos, podem nos levar para mais perto de Deus.
O primeiro é o nascimento de Sete. O comentário da Bíblia de Genebra diz: "Seu nome, derivado do verbo hebraico traduzido como "apontado" expressa a fé que Eva possuía de que Deus continuaria a família da aliança, apesar da morte." Isso também não dá a entender que Eva já esperava o Messias?

Gênesis 4: 26 - "A Sete também nasceu um filho, a quem pôs o nome de Enos. Foi nesse tempo, que os homens começaram a invocar o nome do Senhor."O segundo exemplo mostra a família da aliança unida, glorificando a Deus e esperando nEle - depois do nascimento de Enos.

Gênesis 5: 21 - 22 - " Enoque viveu sessenta e cinco anos, e gerou a Matusalém. Andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos; e gerou filhos e filhas."
No terceiro exemplo, a Bíblia fala que Enoque andou com Deus depois de gerar Matusalém. Isso me parece bastante significativo.

E assim fica claro que Deus pode restaurar aquilo que havia se perdido. Mesmo quando toda a Terra parecia ter se entregue à corrupção, à imoralidade, à maldade, a tal ponto de fazer Deus se arrepender de ter criado o homem ( Gênesis 6:6), uma família é pinçada do meio do pecado para cumprir mais uma vez uma missão redentora: perpetuar o que de melhor havia na raça humana. Deus poderia ter salvo apenas Noé, uma vez que a Bíblia diz que foi ele quem achou graça diante de Deus. Seus filhos não eram certamente um modelo de santidade, como posteriormente Cam demonstrou no episódio da bebedeira de Noé. Ora, o próprio Noé não era um santo, na concepção ordinária desta palavra. Mas Deus sabia que, em família, eles seriam fortes o suficiente para viver e propagar a Verdade que lhes fora dada a respeito do Único Deus Jeová.

Aliás, examinando o critério de Deus para selecionar os animais que entrariam na arca, vemos que até mesmo aí ele não escolheu apenas os puros. os animais imundos também tinham sua função no equilíbrio ambiental, Deus não poderia simplesmente exterminá-los. Deus também não podia exterminar o mal da Terra naquele momento específico, posto que ainda faltava o sacrifício redentor de Seu Filho para que o Universo entendesse o que estava em jogo. Então cuidou para que a família de um ser humano íntegro - não perfeito, mas temente e fiel - continuasse a caminhada rumo ao resgate completo. Eles teriam de aprender a lidar com o mal e suas consequências. Mas teriam todo apoio dos céus: enquanto estivessem juntos naquela célula familiar que foi salva das águas, eles seriam uma fortaleza guardando a paz e o bem.

1.1.06

Genesis 1 - 3 - O resumo do Grande Conflito

Primeiro dia do ano. Começar dá um frio na barriga!
Começo de ano, começo de ano bíblico, começo de mundo na minha primeira leitura da Bíblia em 2006.
Será que Deus também sentiu frio na barriga quando começou?

Os três primeiros capítulos de Gênesis bem poderiam ser lidos e relidos durante um ano inteiro. Além de possuírem grande densidade teológica (cada verso pode render um sermão), eles sozinhos descrevem todo o Plano de Salvação, que Philip Yancey chama de "Bondade - Queda - Resgate". Ou seja, Deus criou o mundo e viu que tudo era bom. O mundo caiu em pecado. Deus preparou um resgate para o mundo. Dois versículos apenas introduzem a esperança da redenção entre a raça humana:

Gênesis 3:15 - "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." - Começava então o Grande Conflito entre a Igreja de Cristo (a Mulher) e Satanás (a Serpente), com a promessa de que este último seria esmagado apesar das feridas que causaria na primeira. Como não havia outra maneira de detestarmos o pecado, Deus criou a última coisa no Éden: o ódio. Embora esse sentimento, até então desconhecido, fosse perigoso se se voltasse para o alvo errado, ele seria o único instrumento capaz de nos proteger da completa entrega ao pecado (Hebreus 1:9).

Gênesis 3:21 - "E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu." - O primeiro ser que morre. Adão choca-se com a consequência de seu pecado, e entende a tragédia. Mas entende também que, dali por diante, teria de esperar o inocente Cordeiro de Deus para que a redenção fosse completa. E até lá, fica instituído o ritual do sacrifício de um animal puro apontando para Jesus.

Se a Bíblia tivesse só esses três capítulos, o cristianismo já teria bases em que se sustentar. Por isso mesmo é tão difícil ler e ficar satisfeito em ler uma vez só. Bem, na verdade, esses capítulos possuem a vantagem de serem os mais lidos da Bíblia em todo o mundo. As pessoas só começam a desistir do ano bíblico lá pelo capítulo 10 de Gênesis, quando começa o relato dos descentes do Noé...

Abaixo, seguem algumas observações que achei interessante anotar aqui:

Gênesis 1: 5 - "E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E houve noite e dia, o dia primeiro." - lembro como fiquei surpresa quando descobri que o dia bíblico começava como pôr-do-sol. Na Mesopotâmia o dia, para as observações astronômicas, começava à meia-noite, embora o calendário usual partisse do anoitecer. Os chineses e romanos adotaram também a meia-noite para o início do dia, uso que é seguido pelo calendário gregoriano. E agora os adventistas sofrem pra sair mais cedo do trabalho na sexta...

Gênesis 1: 12 - " A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo as suas espécies, e árvores que davam fruto que tinha em si a sua semente, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom." - E o homem achou ruim e modificou geneticamente as frutas para elas nascerem sem sementes, conseguindo um nicho de mercado poderoso na Europa e EUA.

Gênesis 1: 27 - "Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." - Se eu nunca tivesse lido a Bíblia antes entenderia que Deus criou homem e mulher exatamente nesse ponto. Mas a formação da mulher só se dá em Gênesis 2: 18 - 24. Que é a mulher a que Moisés se refere no verso 27 então? Lilith? Na verdade acredito que a partir de Gênesis 2: 4, Moisés retoma a narrativa da gênese para se deter em seus pontos mais específicos ou relevantes, o progresso do texto não é rigorosamente cronológico, como demonstra o verso 2:5, que de outro modo entraria em contradição com o 1:12.

Gênesis 1: 29 - "Disse-lhes mais: Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento." O famoso versículo da dieta original vegetariana. Há algo a notar, no entanto. No Éden não havia agrotóxicos, água e ar poluídos que fazem dos nossos atuais legumes, frutas, verduras e sementes, verdadeiras bombas químicas. A não ser que se tenha dinheiro pra comprar tudo orgânico e não-transgênico, essa dieta também pode ser tão perigosa hoje quanto uma dieta cárnea (mas eu hei de tentar de novo o vegetarianismo entre maio deste ano e outurbo de 2045).

Gênesis 2: 2 - 3 - "Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha feito, descansou nesse dia de toda a obra que fizera. Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera." PONTO DOUTRINÁRIO. Versículos obrigatoriamente sublinhados na Bíblia adventista. Pra dizer que o sábado não foi dado só para judeus...

Gênsis 2: 7 - "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente." PONTO DOUTRINÁRIO

Capítulo 3 - o capítulo mais triste da Bíblia.

Gênesis 3: 4- - "Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." - A serpente não tinha razão? Eva disse que Deus havia falado que só de tocar o fruto eles morreriam. Mas eles não morreram, e de fato, se lhes abriram os olhos (verso 22) e passaram a conhecer o bem o mal. A serpente disse a verdade? Aqui observamos que Satanás não é só mau, é sagaz. Ele deu a Eva uma verdade distorcida, mais ou menos como naquele filme de terror "O Mestre dos Desejos", onde um gênio do mal dava um jeito de transformar todos os desejos daqueles que o pediam algo, em uma coisa ruim que se voltava contra eles próprios. Satanás apelou para Eva achar Deus injusto, como ele já fizera com os anjos no céu. Quis que Eva pensasse que Deus era mau porque não permitia a ela e seu marido conhecerem tanto quanto Ele conhecia. Deus criou-nos semelhantes a Ele, mas Satanás diz que não basta, diz que temos que ser iguais a Ele. E fomenta a rebelião da criatura contra o Criador. Acontece que Deus, como nosso criador, conhece nossa estrutura muito bem, e sabia que ela não resistiria ao mal. Deus, em sua natureza perfeita é capaz de lidar com o Bem e o Mal e resolver tudo sabiamente. Mas nós não fomos feitos com condições para suportar isso, porque fomos criados para um mundo perfeito! Nossa mente e corpo são frágeis à ação do pecado, impotentes frente ao poder do Mal, e é por isso que Deus quis nos preservar do conhecimento deste último. Hoje, quando nos deparamos com a morte, é que podemos perceber mais uma vez que não fomos criados para suportar o conhecimento do mal neste mundo: nenhum ser humano se conforma com a morte, não importa quanto tempo passe desde que perdeu alguém que amava. O homem não perdeu só a inocência aqui, perdeu muito, muito mais...

Gênesis 3: 12 - "Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi." - incrível como eles fazem isso até hoje!

Gênesis 3: 16 - "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará." Esse verso sempre me intrigou. Até que achei uma explicação convicente para ele. Primeiro, repare que, ao contrário do que fez com a serpente, Deus não amaldiçoou a mulher, apenas contou-lhe das consequências mais drásticas do pecado sobre ela. Deus não estava mandado o marido governar a mulher, mas dizendo que ele, em virtude do pecado, tenderia a agir assim (machistas pecadores!). A palavra para "desejo", em hebraico é teshugah, que só aparece mais duas vezes no Antigo Testamento: em Gênesis 4:7 e Cantares 7:10, onde se denota desejo de controle sobre algo ou alguém, anseio. Ou seja, com a assertiva "o teu desejo será para o teu marido e ele te governará", Deus estava dizendo que o pecado tinha dado início à guerra dos sexos. O relacionamento entre homem e mulher, que fora criado pra ser harmonioso, agora ficaria desequilibrado. A liderança que serve, modelo da liderança de Cristo, seria substituída pelo autoritarismo por parte do marido. E a mulher responderia se rebelando contra este (feministas pecadoras!). O casamento foi duramente atingido pelo pecado, e o desejo de poder começou aí, dentro da família, que até hoje sofre com a descrença mundial no matrimônio como instituição...

Gênesis 3: 19 - "Do suor do teu rosto comerás o teu pão..." - "E todo mundo come o pão com o suor do padeiro" (Millôr)

CITAÇÃO DO DIA

"No Colégio, sentia orgulho de minha habilidade no jogo de xadrez. Filiei-me ao clube de xadrez e, na hora do almoço, sempre me encontrava sentado a uma mesa com outros nerds, estudando minuciosamente livros do tipo "Aberturas clássicas com peões do rei". Estudei técnicas, venci a maioria das partidas e deixei o jogo de lado aos vinte anos. Então, em Chicago, encontrei um jogador de xadrez que aperfeiçoava sua capacidade desde o tempo do colégio. Quando jogamos algumas partidas, vi o que era jogar contra um mestre. Qualquer ataque clássico que eu tentava, ele contra-atacava com uma defesa clássica. Se arriscava técnicas menos ortodoxas, ele incorporava minhas ousadas incursões em suas estratégias vencedoras. Até mesmo os erros aparentes ele transformava em vantagens. Eu comia [SIC] um peão desprotegido e, em seguida, descobria que ele o havia plantado ali como isca sacrificial e parte de um grande plano. Embora tivesse total liberdade de fazer qualquer movimento que desejasse, logo cheguei à conclusão de que minhas estratégias de nada valiam. Sua superioridade fazia com que meus propósitos inevitavelmente acabassem senvindo aos dele.
Talvez Deus opere em nosso universo, criação dele, de forma parecida. Ele nos garante liberdade para nos rebelarmos contra o seu plano original, mas, quando agimos assim, acabamos "ironicamente" servindo a seu alvo final de restauração. Se aceito esse plano - um imenso passo de fé, confesso - ele transforma minha perspectiva das coisas boas e más que acontecem. As coisas boas, como saúde, talento e dinheiro, posso apresentar a Deus como ofertas para seu proveito. E as coisas más - incapacidade, pobreza, problemas familiares, fracassos - também podem ser "redimidas" como os próprios instrumentos que me levarão a Deus. Podemos impedir que a correnteza flua em direção ao vale abaixo, mas apenas temporariamente. A lei da gravidade faz com que a água acabe descendo. Da mesma forma, a vontade última de Deus não pode ser mudada. Embora a história humana com todos os seus males possa colocar muitos obstáculos no caminho, no final eles serão transpostos. Deus reunirá sua família numa terra restaurada a uma condição semelhante ao seu estado original. NEste mundo, por enquanto, Deus nos permite sofrer o mal. (...) Pelo que conhecemos do caráter de Deus, nenhuma dessas coisas reflete sua vontade intencional. E, para quem crê nas promessas dele, elas também não refletem sua vontade última."
(Philip Yancey . O Deus invisível, p. 254, 255, 258)